segunda-feira, 9 de abril de 2012

Análise do filme "O Poderoso Chefão"

Este trabalho foi bem legal de fazer. Assisti o filme umas 3 vezes, não pra fazer a análise, mas porque o filme é muito bom.



            O Poderoso Chefão (título original: The Godfather) foi considerado um dos melhores filmes americanos de todos os tempos pela American Film Institute (uma das mais importantes instituições do cinema americano) estando em primeiro lugar na lista ‘Top 10 Gangster’ do instituto.
            O filme é considerado também como a obra-prima do diretor Francis Ford Coppola. Foi baseado no livro de mesmo nome do escritor Mario Puzo. A adaptação do roteiro foi feita numa parceria entre os dois.
            Em 1972 foi indicado para dez categorias do Óscar. Ganhando os Óscares de Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator, este cedido à brilhante atuação de Marlon Brando como o patriarca da família Corleone.
            O filme apresenta um retrato violento e marcante da luta de uma poderosa família siciliana para permanecer no poder, numa corrupta e traiçoeira América pós-guerra. O primeiro filme da trilogia retrata o início da história da vida familiar dos Corleone e os sujos negócios criminais em que estão envolvidos.
            ‘O Poderoso Chefão’ inicia com uma cena escura de um homem (Bonosera) dando o relato do que alguns americanos fizeram com sua filha. A câmera fixa, enquadramento em primeiríssimo plano no rosto do homem,vai se afastando, dando zoom (que dura três minutos), aumentando o plano. Vemos então, entrar em cena, as costas de outro homem que percebemos logo ser o Don Vito Corleone. Essa mudança do tamanho do plano juntamente com a pouca luz da cena (que se concentra no rosto do senhor que fala) e os efeitos de sombra torna-a lúgubre, mostra a seriedade e a dramaticidade daquele diálogo.
            Na verdade boa parte das cenas dramáticas e importantes do filme são feitas utilizando-se (ou seria retirando-se?) a luz e a sombra como artifício de dramatização.
            A cena seguinte é completamente oposta à anterior. Numa área externa, bem iluminada, percebemos que se passa durante o dia (só então notamos que a cena anterior também se passa de dia). É uma festa, pessoas alegres, dançando e conversando. É um casamento. A noiva aparece feliz e radiante. Todos vestidos de acordo com o casamento e com a época em que se passa.
            A câmera inicia a cena de forma panorâmica, vai se aproximando e então passa a mostrar partes separadas da festa, personagens importantes do filme e suas características, mas estas cenas são feitas sempre com câmera fixa.
            A cena em que Tom Hagen (Robert Duvall) e o Sonny (James Caan), filhos do Don, vão do lado de fora da propriedade para expulsar os federais é a primeira cena em que a câmera se movimenta com os atores, até então, só aparecia cenas de câmera parada.
            Uma câmera acompanha um casal que acabou de chegar à festa. Inicialmente só as costas. O homem está de farda, percebemos que é um soldado de guerra, dando a entender que era um ‘herói de guerra’ (como os americanos chamam os que lutaram pelo país em alguma guerra), neste caso da segunda guerra mundial.
            O começo do filme se torna muito interessante por que em um momento aparece a festa, bem iluminada, com pessoas alegres, dançando e cantando, cenas rápidas e em outro momento aparece uma sala escura, com poucas pessoas e diálogos sérios. Essa alternância de humor (por assim dizer) nos faz perceber que apesar dos gângsters serem pessoas ‘normais’, não podemos esquecer o que eles realmente são.
            Na festa aparece um cantor famoso e as mulheres começam a gritar, era Johnnie Fontane. Ele canta. É a primeira música com letra do filme, até então, somente músicas clássicas, som sem voz.
            Descobrimos que o cantor é ‘afilhado’ do Don através do Michael (que já sabemos que também é filho do Don) que conta à sua acompanhante a estória de como Johnnie se livrou de um contrato com a ‘ajuda’ do padrinho. Neste diálogo, percebemos como são feitos os ‘negócios’ da família. No diálogo seguinte percebendo o incômodo da namorada, ele afirma: “Esta é a minha família Kay, não eu.” Dando a entender que não tem desejo nenhum em entrar para ‘os negócios’ da família.
            Com aproximadamente 30 minutos de filme ocorre umas das cenas mais famosas do cinema. A câmera mostra a casa do diretor pelo lado de fora, percebe-se que está amanhecendo. Corta para o quarto, onde aparece somente a cama. A câmera se aproxima da cabeceira da cama, onde se encontra o diretor de cinema que rejeitou o Johnnie e a proposta do Don. Ele está dormindo, se movimenta um pouco e percebemos que há sangue no lençol. Então o diretor acorda e percebe que há algo errado. Vai se mexendo e tirando o lençol de cima dele. A câmera acompanha o movimento e vai descendo aos poucos, mostrando exatamente quando o diretor tira cada parte do lençol sobre o corpo que está todo ensangüentado. Não se sabe o que aconteceu, ficamos na expectativa de saber o que houve, se o diretor está ou não ferido. O diretor já está quase que completamente descoberto, tira então do lençol a única parte do corpo que faltava, os pés. Notamos então que não é o diretor que está ferido. O que é então? Ele levanta de uma só vez o lençol da cama ensangüentada, a câmera acompanha toda a cena, então aparece o motivo de todo aquele sangue: a cabeça decapitada do seu querido e valioso cavalo.
            Em seguida a cena que muda trajetória do filme, a reunião do Don Corleone com o gângster Sollomon. Uma das poucas cenas do filme em que a câmera acompanha os personagens, exatamente quando o Don chega à sala para a reunião, em seguida Bruno com os Tattaglias. Esta cena muda a trajetória do filme por que é a partir daqui que os ataques começam.
            A cena que assassinaram o Paullie que é um dos ‘funcionários’ do Don e que provavelmente foi um dos que ajudaram no ataque ao Don (Paullie é motorista e no dia do ataque ao Don ele estava ‘doente’) é uma cena muito boa. O carro está numa estrada que fica no meio do campo (acho que era um milharal), para para um dos gângster urinar. O jogo de câmera acontece quando mostra o rosto do ator que está urinando, e quando mostra de longe o carro, de uma maneira que podemos olhar o carro centralizado num plano geral e o campo (no lado esquerdo vemos a estátua da liberdade). Notamos que o ator que está fora do carro finge que nada está acontecendo, mas ao mesmo tempo que sabe o que vai acontecer. Volta a câmera para o carro e de repente uma luz no carro e um barulho de tiro. Paullie que estava sentado na frente (estava dirigindo) cai com a cabeça no volante.
            No hospital onde o Don Corleone está internado vemos que o uso de câmera imóvel é bastante utilizado. Quando Mike e a enfermeira mudam o Don de quarto percebemos claramente que a câmera parada está posicionada na escada.
            O Mike fala para o Don (que está dormindo ou em coma): “Cuidarei de você agora.”. Com esse diálogo o Mike ingressa nos negócios da família. Mas só percebemos isso bem depois. Na verdade só quem assistiu várias vezes consegue perceber que é neste ponto que isso ocorre.
            É marcada uma reunião entre o Sollomon, o policial e o Mike. O carro começa a se movimentar quando Mike entra e a câmera encontra-se fixa na frente do carro durante a cena inteira.
            Logo depois na reunião que ocorre com os três no restaurante, quando Mike está prestes a matar o policial e o gângster, essa cena foi feita em 1º plano no rosto dele (do Mike), manifestando o significado psicológico e dramático da cena. Percebe-se uma tensão mental do personagem, uma impressão de angustia e ansiedade nas feições do ator que é reforçada pelo enquadramento. No ápice da cena, quando Mike prestes a sacar a arma, a tensão do momento é também representada pelo som de um trem passando que é utilizado aqui como papel dramático já que aumenta a ansiedade e o nervosismo do que está para acontecer.
            Quando o Mike é enviado para Itália, passam cenas de gângsters mortos, dos ‘funcionários’ do Don vivendo escondidos, de matérias de jornais relatando mortes, todas essas cenas fixas ao som de piano que também é usado como sublimação de ruído nas cenas de assassinato.
            Uma cena interessante é na Itália quando mostra a reconstrução da cidade, devido à Guerra. Interessante num ponto de vista histórico.
            Uma cena única (se não me falha a memória) é quando o Sonny está traindo a mulher, a câmera faz um movimento de travelling vertical, primeiro de cima para baixo e em seguida faz o movimento contrário.
            A definição de relações espaciais entre dois personagens acontecem bastante, mas em dois momentos do filme isso é percebido mais claramente. Quando o Tom Haggen conta ao Don Corleone que o Sonny foi assassinado e já quase no final do filme quando o Don Corleone conversa com o Mike.
            O vestuário (ou figurino) é todo realista. As roupas e acessórios utilizados no filme ‘O Poderoso Chefão’ foram escolhidos de modo a dar impressão da época, no caso de 1945, pós-guerra mundial e também no modo de vida dos gângster da época. Vemos isso nos homens, todos de terno ou paletó e gravata, suspensórios, chapéus, ou até nas fardas, já que o filme se passa logo depois do término da guerra. As mulheres com vestidos compridos e chapéus, luvas e lenços nas mãos.
            Temos que concordar com Jacques Manuel quando ele diz que “... precisamos admitir que o vestuário é o que está mais próximo do indivíduo, embelezando-o ao esposar sua forma, ou ao contrário, distinguindo-o e confirmando sua personalidade”. No caso deste filme isso é bem verdadeiro, pois pelas roupas podemos perceber várias características marcantes dos gângsters.
            Os cenários podemos dizer que é realista já que apresenta tudo exatamente como era em Nova Iorque na época. A cena do assassinato do Paullie que ao fundo se a estátua da liberdade e todo aquele ‘matagal’ na frente, em meados de 40 a cidade não era toda tomada por cimento e prédios como hoje. Ou então, percebemos o realismo em uma cena em que o Mike está passeado na cidade italiano e aparece uma cidade destruída sendo reconstruída, já que na época a 2ª Guerra Mundial havia acabado há pouco tempo e muitas cidades européias estavam sendo reerguidas.
            A trilha sonora do filme além de servir como música ambientação também é utilizada como papel dramático pois oferece uma tonalidade psicológica em todas as cenas. Os acordes criado por Nino Rota é um ótimo exemplo disso. As canções tocadas são da década de 40, relacionando o filme à sua data (1945): “Não vou escrever música dos anos 40. Para isso nada melhor do que ela mesma.” Disse Rota.
PS: Nino Rota não ganhou o Oscar de melhor trilha sonora original porque mesmo a música sendo de sua autoria, já havia usado em outro filme (Fortunella - 1958)
            Os diálogos são bem realistas e de acordo com a vida dos personagens. Gírias, modos de falar e até a língua italiana, presente em muitos trechos do filme. Foi por isso, para manter a relação Itália-América mais realista, que os estúdios da Paramont escolheram um diretor ítalo-americano.
            O desafio de "fazer prevalecer a explicação verbal sobre a expressão visual" foi superado facilmente por Coppola.
            Os diálogos de "O Poderoso Chefão" são uns dos mais conhecidos e mais imitados de todos os tempos. Não só pela maneira como eram ditos pelos atores (note que não comentei sobre as brilhantes atuações dos atores - não tive espaço), mas pelo próprio dialogo em si, pelas mensagens existentes neles em relação à família, ao tráfico de drogas, entre outros assuntos.
            Um erro que passou longe das filmagens de Coppola foi o do diálogo ser apenas uma paráfrase das imagens, ser apenas uma complementação. Neste filme os diálogos entravam em cena para enriquecê-las e em alguns momentos inclusive, dar sentido a elas. Muitas cenas no filme não precisariam de falas, mas definitivamente nós saímos ganhando com a inserção dos diálogos.

CONSIDERAÇÕES:
Ao escrever a análise percebi que ficaria muito difícil colocar determinados pontos no meio do texto( não ficaria uma seqüência agradável na leitura),  por isso deixei para o final parte da análise teórica, mas que mesmo assim comento, mesmo parecendo que estou dando menos importância (o que não é verdade) à essas teorias.

REFERÊNCIAS:


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